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Perigos da automedicação

26 de junho de 2019

O alto número de pessoas sem a cobertura de um plano de saúde, a dificuldade de acesso aos serviços médico-hospitalares, campanhas massivas de divulgação de fármacos e amplo uso da internet como fonte de pesquisas, sobre medicamentos, são alguns fatores que estimulam parte dos brasileiros a utilizar medicamentos por conta própria. Embora comum, a automedicação oferece riscos sérios à saúde, que incluem reações alérgicas, intoxicação e lesões graves irreversíveis. Para o farmacêutico do Serviço de Farmácia do Hospital Português, Igor Barbosa, a desinformação é o maior agravante dessa prática. Nesta entrevista, o profissional esclarece porque é necessária a indicação médica ou de um farmacêutico antes de tomar qualquer medicamento. Confira!

1. Estudos apontam que alguns problemas de saúde evitáveis são causados por uso indevido de fármacos. Como conter este cenário?

Conscientizando e educando a população sobre os riscos associados ao uso irracional de medicamentos; fortalecendo o elo entre paciente e farmacêutico, através de uma relação de confiança; e, também, regulamentando a publicidade de medicamentos. Hoje, no Brasil, as campanhas publicitárias induzem à automedicação e ao uso inadequado dos medicamentos, pois, mostram benefícios e omitem os riscos. O medicamento não pode ser visto como um produto qualquer.

2. Substâncias naturais (como chás) e psicoativas (como bebidas alcoólicas) interagem com os medicamentos, reduzindo ou potencializando os efeitos esperados? Quais os riscos para a saúde?

Sim. Precisamos entender que o “natural não é inócuo”. Substâncias naturais, por si só, podem apresentar riscos, se utilizadas com exagero, e quando associadas com medicamentos, há risco ainda maior. A camomila, por exemplo, tem propriedades digestivas, sedativas, anti-inflamatórias e analgésicas, porém, potencializa os efeitos dos anticoagulantes orais, reduz a absorção de vários medicamentos e pode aumentar o risco de hemorragia, quando associada a tais medicamentos. Com o álcool é ainda pior; são inúmeras as interações medicamentosas: pode ter efeito potencializado, quando associado à dipirona; oferecer risco maior de hepatotoxicidade, quando associado ao paracetamol; além de inibir o efeito e potencializar a toxicidade hepática de alguns antibióticos.

3. Pessoas alérgicas devem ter atenção especial com o uso de medicamentos?

Com certeza. Principalmente, com drogas associadas. Muitas vezes, a pessoa alérgica já conhece diversas apresentações no mercado que contêm o princípio ativo ao qual tem alergia, mas desconhece as associações. Isso representa um risco muito alto de exposição. É preciso estar atento, ler atentamente a bula e sempre buscar orientação de profissional farmacêutico, para diminuir o risco de exposição. Também, é fundamental que familiares e amigos tenham conhecimento da alergia para que, em situações de emergência, a equipe de saúde possa tomar decisões seguras para o paciente.

4. Febre e dor de cabeça são causas frequentes de automedicação. Como proceder em situações como essas?

Medicamentos são importantes, principalmente em quadros de crise, mas não são as únicas opções. Para casos de cefaleia é preciso adquirir hábitos mais saudáveis – boa qualidade do sono, dieta balanceada, evitar bebida alcoólica e o abuso de cafeína, praticar atividades físicas regulares e aplicar técnicas de relaxamento, como ouvir música, praticar ioga, fazer acupuntura e fisioterapia manual. Em alguns casos, psicoterapia e terapia cognitiva comportamental também podem ajudar. Febre é um sintoma inespecífico e requer atenção. A automedicação pode ser extremamente perigosa, em casos de dengue, zika e chikungunya, por exemplo, porque produtos com princípios ativos naturalmente anticoagulantes aumentam as chances de hemorragias e podem agravar os casos. O ácido acetilsalicílico é o principal deles. Outros medicamentos contraindicados são os anti-inflamatórios não-esteroides, como ibuprofeno, nimesulida ou diclofenaco. Por isso, é extremamente importante procurar ajuda médica.

5. Qual a sua orientação para quem tem o hábito de se automedicar?

Aconselho a tentar diminuir esse hábito, mesmo com a facilidade de acesso aos medicamentos. Busque a maneira mais segura, obtendo orientação de um farmacêutico (profissional que conhece os medicamentos e os seus riscos). O uso incorreto de medicamentos é perigoso e pode até matar. Medicamento é bom, quando é necessário e usado com orientação.